A freira-do-bugio Pterodroma deserta é uma ave marinha pelágica, endémica da Madeira. É uma espécie extremamente rara, onde a sua população está basicamente restrita a um único local, com os ninhos concentrados no planalto sul da ilha do Bugio (uma das três ilhas Desertas) e alguns nas zonas de escarpa adjacentes. Apresenta uma população mundial cerca de 160 a 180 casais.
Historicamente, a freira-do-bugio foi durante muito tempo considerada, tal como a freira-da-madeira, uma subespécie de freira de pena lisa Pterodroma mollis, que nidifica no Atlântico Sul. Estudos resultantes de análises filogenéticas haviam demonstrado já que os taxa do Atlântico Norte se encontravam claramente separados de Pterodroma mollis, com duas espécies distintas de Pterodroma (P. madeira e P. feae), havendo ainda informações de natureza diversa que indicavam a existência de diferenças substanciais (morfológicas, etológicas e fenológicas) entre as duas populações de Pterodroma feae, nidificantes no arquipélago de Cabo Verde e na Ilha do Bugio, arquipélago da Madeira. Atualmente, e resultante de estudos genéticos comparativos, as populações de Cabo Verde e do Bugio são consideradas espécies distintas (P. feae e P. deserta respetivamente) reforçando o estatuto de ameaça da espécie e a importância da sua conservação.
OBJETIVOS
Em fevereiro de 2006 surge o Projeto LIFE Natureza "Medidas urgentes para a recuperação da freira-do-bugio Pterodroma deserta e do seu habitat/SOS freira-do- Bugio". Este projeto coordenado pelo Serviço do Parque Natural da Madeira (SPNM) em parceria com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), prolongou-se durante 5 anos tendo o seu término em dezembro de 2010. Teve como objetivo prioritário garantir que a população de freira-do-bugio e o seu habitat de nidificação nas ilhas Desertas, onde se podem encontrar muitas espécies prioritárias incluídas nos Anexos das Diretivas Comunitárias Aves e Habitats, atingissem um estatuto de conservação favorável, estável e auto sustentável. Atualmente, esta espécie possui um esquema de monitorização e gestão continuado.
DESCRIÇÃO DA ESPÉCIE
Distribuição
É uma espécie endémica do arquipélago da Madeira.
Descrição e morfometria
É uma ave da família Procellariidae. 33 a 36 cm de comprimento e 86-94 cm de envergadura. Asas e dorso escuros, com uma marca em "W" nas asas. Parte interna das asas escura e ventre branco. Semelhante à freira-da-madeira, embora seja um pouco maior e tenha bico mais robusto.
Habitat
Ave marinha pelágica, passando grande parte do seu ciclo de vida em alto mar. Nidifica no planalto sul da ilha do Bugio, onde escava os seus ninhos no solo, pelo que a existência de áreas não erosionadas é vital para a sua sobrevivência. Pontualmente pode nidificar em buracos nas rochas ou em zonas com pedras soltas.
Reprodução
A época de reprodução é caracterizada por três diferentes fases:
Em suma, o período de reprodução ocorre em média durante 180 a 190 dias, período compreendido entre junho e dezembro. A freira-do-bugio chega à colónia em junho, para dar início à limpeza dos ninhos, acasalamento e cópula. Após o êxodo pré-postura os primeiros ovos são postos em meados de julho. A eclosão dá-se a partir de meados de setembro e os juvenis saem do ninho a partir de meados de dezembro.
Estatuto Legal
Listada Anexo I da Directiva Aves e Anexo II da Convenção de Berna. 100% da área de nidificação está identificada como ZPE e classificada de ZEC, integrando a Rede Natura 2000 e a Reserva Natural das Ilhas Desertas.
Conservação
Decorrente do projeto SOS freira-do-bugio, foram tomadas diversas medidas de conservação. Nos anos de 2007 e 2008 foram implementadas no terreno ações com vista à erradicação do coelho e do murganho na Ilha do Bugio com a consequente monitorização dos seus efetivos populacionais. Esta monitorização mostrou bons resultados, uma vez que, se verificou a total erradicação, de coelhos e murganhos presentes na principal área de nidificação (planalto sul do Bugio), conseguindo mesmo notar-se já a progressiva recuperação do coberto vegetal.
Foi também conseguido minorar os processos erosivos nesta área, através da sustentação de vertentes por meios mecânicos e através da colocação de malha anti-erosiva.
A colocação de ninhos artificiais, como medida para o progressivo aumento do número de locais disponíveis para a nidificação, tem também sido de grande sucesso, uma vez que tem sido verificada a sua utilização frequente por adultos pré-reprodutores.
Em paralelo com estas medidas, os efetivos populacionais continuam a ser seguidos atentamente em cada época de reprodução, e toda a zona de nidificação é alvo de vigilância.
Ameaças
As principais ameaças que esta espécie apresentava, essencialmente antes do projeto SOS freira-do-bugio, diziam respeito à perturbação e destruição dos ninhos causada pelos coelhos, à degradação do habitat causada por vertebrados introduzidos, à concentração de pelo menos 90% da população reprodutora numa só localização e com uma área restrita (inferior a 20000 m2), à ausência de conhecimento sobre a eventual existência e localização de áreas importantes para a alimentação e migração/dispersão da espécie e ao impacto humano indireto.
Atualmente e decorrente das ações implementadas no projeto SOS freira-do-bugio foi conseguida a erradicação de coelhos e murganhos na ilha do Bugio, caso de sucesso numa ilha tão grande. A realização com sucesso desta ação trará benefícios à espécie no que concerne à melhoria na qualidade da sua área de nidificação. Ainda assim, o esquema de monitorização contínuo que está a ser desenvolvido permitirá suprimir potenciais ameaças.
PRINCIPAIS AÇÕES EM CURSO
É alvo de um projecto de conservação que, entre outras medidas de gestão, avalia e monitoriza de forma continuada o sucesso reprodutor da colónia, bem como de todo o seu habitat.
PARCEIROS
SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
PUBLICAÇÕES DE INTERESSE
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Jesus, J., Menezes, D., Gomes, S., Oliveira, P., Nogales, M.& Brehm, A. (2009) Phylogenetic relationships of Gadfly petrels Pterodroma spp. from North-eastern Atlantic Ocean: molecular evidence for specific status of Bugio and Cape Verde petrels and implications for conservation. Bird Conservation International, 19: pp:1-16.
- Menezes, D., Oliveira,P., Ramírez, I.2010. Pterodromas do arquipélago da Madeira. Duas espécies em recuperação. Funchal, Portugal: Serviço do Parque Natural da Madeira.
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