Localização e geografia das Ilhas Selvagens

Pico Atalaia (Selvagem Grande) Selvagem Pequena onde se destaca o Pico do Veado (vista a partir do Ilhéu de Fota) Ilhéu de Fora
Selvagem Grande Selvagem Pequena Ilhéu de Fora


O arquipélago das Selvagens é um grupo muito remoto e isolado de ilhas oceânicas portuguesas, localizado no Atlântico Nordeste. É formado por 3 pequenas ilhas principais desabitadas de origem vulcânica entre os arquipélagos da Madeira e das Canárias.

A norte temos a Selvagem Grande, e a Sudoeste, separado desta de cerca de 10 milhas, temos um grupo composto pela Selvagem Pequena, Ilhéu de Fora e outros ilhéus menores (Figueira 1964).

A Selvagem Grande é a maior e mais alta das ilhas, tendo cerca de 2,46 Km2 e atingindo a maior altitude no Pico da Atalaia (153 m); a Selvagem Pequena apresenta uma área de cerca de 0,65 Km2, sendo o Pico do Veado (49 m) o ponto mais alto, e quase toda a ilha encontra-se coberta por areia calcária; a SO da Selvagem Pequena existem alguns pequenos ilhéus, destacando-se o Ilhéu de Fora, com uma área de cerca de 0,071 Km2 e 18 m de maior altura, e separado da Selvagem Pequena por um canal com 1.200 m (Figueira 1964). As Ilhas Selvagens apresentam uma biodiversidade notável https://ifcn.madeira.gov.pt/images/Doc_Artigos/Divulgacao/publicacoes/livros/ILHAS_SELVAGENS.pdf que levou à classificação destas ilhas como Reserva Natural em 1971, e são zelosamente protegidas por Vigilantes da Natureza e pela Polícia Marítima, que aí permanecem durante todo o ano.

O Projeto RESCUE

Argyranthemum thalassophylum (Filipe Viveiros) Euphorbia anachoreta (Mario Boieiro e Pedro Jardim) Deucalion oceanicum
Argyranthemum thalassophilum Euphorbia anachoreta Deucalion oceanicum


O projeto “Resgate da extinção de espécies endémicas de plantas e escaravelhos das Ilhas Selvagens” pretende salvaguardar um conjunto de espécies únicas que se encontram em estado crítico de conservação, nomeadamente duas espécies de plantas vasculares, a estreleira das Selvagens (Argyranthemum thalassophilum) e a eufórbia do das Selvagens (Euphorbia anachoreta) e o escaravelho longicórnio do ilhéu de Fora (Deucalion oceanicum).  

A singularidade destas espécies resulta do seu isolamento genético e geográfico, apresentando atualmente efetivos populacionais extremamente reduzidos. As alterações climáticas constituem uma das principais ameaças a estas espécies, nomeadamente com a esperada subida do nível do mar e o aumento previsível da temperatura.

Dada a ocorrência destas espécies em áreas remotas, pouco se sabe da sua ecologia, demografia e genética. Um estudo florístico efetuado em 2013 alertou para a urgência na conservação destas duas espécies de plantas dadas as ameaças existentes, o seu reduzido efetivo populacional e a ausência de recrutamento (Carvalho et al. 2021, López‐Pujol et al., 2013). As lacunas de informação relativamente ao escaravelho D. oceanicum são ainda maiores, não existindo dados sobre a sua abundância, ecologia e história de vida. Sabe-se, contudo, que este coleóptero utiliza a E. anachoreta como planta hospedeira durante os seus estádios larvares, sendo vital para a sua sobrevivência. 

Inventário flora e vegetação no Ilheu de Fora Monitorização população de E. anachoreta

Inventário da flora e vegetação

no Ilhéu de Fora

Monitorização da população de 

Euphorbia anachoreta


O projeto RESCUE apresenta 8 ações principais para recuperar as populações destas espécies ameaçadas de extinção: 1) recolha de informação de base sobre as espécies alvo e respetivos habitats; 2) avaliação das variáveis edafoclimáticas nas áreas de distribuição atual e potencial das espécies; 3) determinação da variabilidade genética das populações alvo com base em estudos moleculares; 4) avaliação/reavaliação do estado de conservação das espécies com base na metodologia da UICN; 5) monitorização das populações das espécies alvo e dos seus habitats; 6) implementação de um programa de reprodução em cativeiro para as espécies alvo; 7) elaboração de uma estratégia de conservação; e 8) reintrodução das espécies alvo numa ilha próxima com habitat adequado (Selvagem Grande).   

Equipa do projeto

A concretização das ações preconizadas envolve a Divisão de Gestão e Valorização de Áreas Classificadas (DGVAC), gestora da reserva natural das ilhas Selvagens, e ainda a coordenação do Corpo de Vigilantes da Natureza. O projeto conta também com a participação de vários parceiros nacionais e internacionais, nomeadamente dois grupos de especialistas da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para os grupos biológicos em apreço: Grupo de Especialistas das Plantas das Ilhas da Macaronésica (MIPSG, https://www.iucn.org/our-union/commissions/group/iucn-ssc-macaronesian-islands-plant-specialist-group) e Grupo de Especialistas em Invertebrados das Ilhas do Atlântico (AIISG, http://www.aiisg.com/), dos quais fazem parte os técnicos superiores do IFCN Carlos Lobo, Francisco Fernandes e Dinarte Teixeira. Os dois primeiros estarão envolvidos na avaliação do estado de conservação das espécies de plantas alvo, enquanto o último coordenará a avaliação ecológica e edafoclimática das áreas de intervenção, sendo ainda responsável pela avaliação do estado de conservação de D. oceanicum, na qualidade de coordenador das listas vermelhas do AIISG.   

O investigador Mário Boieiro (Ce3c, Universidade dos Açores) coordenará as ações dirigidas ao D. oceanicum, enquanto a avaliação da variabilidade genética das espécies de plantas vasculares alvo do projeto será coordenada pela Prof. Doutora Mónica Moura (Universidade dos Açores) em conjunto com Francisco Fernandes.  

O Projeto é coordenado pelo IFCN e tem como parceiros o Conservatoire Botanique National de Brest (França, https://www.cbnbrest.fr/) e o Chester Zoo (Reino Unido, https://www.chesterzoo.org/), os quais terão um papel relevante na propagação das espécies alvo em cativeiro. Possuem instalações otimizadas para o efeito, as quais seguem as regras definidas pela UICN e pela Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA, https://www.eaza.net/) para os programas de reprodução em cativeiro (UICN 2014), disponibilizarão técnicos especializados nas áreas em apreço e custearão estas ações. Por fim, o projeto conta ainda com a assessoria científica do Prof. Doutor Manuel Nogales (Conselho Superior de Investigações Científicas, Espanha), renomado investigador com mais de 30 anos de experiência em ecologia insular e conservação da natureza.

Por último destaca-se a importância do Banco de Sementes do Jardim Botânico da Madeira, que conserva coleções de sementes e médio e longo prazo destas duas espécies alvo do projeto, e as instalações do IFCN onde se fazem as propagações quer por sementeira quer por estacaria. 

Financiamento

O financiamento geral do projeto RESCUE fica a cargo da Mossy Earth (https://www.mossy.earth/), entidade empenhada no restauro de ecossistemas selvagens, no apoio e valorização da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas, que assume um apoio financeiro até 2028, num valor total estimado de 39404 €.  

Bibliografia 

Carvalho, J.A., Vilatersana, R. & López-Pujol, J. 2021. Conservation status of three endemic plants of the Selvagens Islands (Northern Atlantic Ocean): Argyranthemum thalassophilumAsparagus nesiotes subsp. nesiotes and Euphorbia anachoreta, Plant Biosystems - An International Journal Dealing with all Aspects of Plant Biology, DOI: 10.1080/11263504.2020.1829728.  

Figueira, A.J.G. 1964. Scientific Expedition to the Salvage Islands July 1963. II. The Salvage Islands: Some geographical, geological and historical notes. Boletim do Museu Municipal do Funchal 18, 132-139.