O Jardim Botânico da Madeira – Eng.º Rui Vieira, com uma área ajardinada de 5ha aproximadamente, reúne uma elevada quantidade e diversidade de espécies vegetais (cerca de 3000) originárias de zonas do globo ecologicamente bem diferenciadas. Ao longo do jardim, as plantas encontram-se identificadas com o nome científico, nome comum, família e local de origem e dispostas em várias coleções principais, das quais se destacam: as espécies endémicas da Madeira, o arboreto, as plantas suculentas, os jardins coreografados e a topiária, as plantas agroindustriais, as plantas aromáticas e medicinais, as palmeiras e cicadáceas e as áreas ajardinadas.
HISTORIAL
A criação do Jardim Botânico da Madeira foi a concretização de uma aspiração antiga que remontava ao século XVIII, dado que a Ilha reunia condições de clima propícias para cultivar um grande número de espécies vegetais, desde as características das regiões tropicais até às das regiões frias.
Os registos históricos referem que terá sido João Francisco de Oliveira o primeiro a estudar com maior cuidado a criação de um estabelecimento desta natureza, tendo enviado ao Dr. Domingos Vandelli, diretor do Real Jardim Botânico (Lisboa), em Maio de 1798 um relatório intitulado “Apontamentos para se estabelecer na Ilha da Madeira hum viveiro de plantas e huma Inspecção sobre a Agricultura da mesma Ilha”. Na sequência do trabalho de João Francisco de Oliveira, em 1799 criou-se um viveiro de plantas na freguesia do Monte, o qual, segundo os autores do “Elucidário Madeirense”, foi extinto em 1828 pelo Governo de D. Miguel.
No século XIX, alguns botânicos e naturalistas defenderam a criação do jardim, nomeadamente o naturalista J. R. Theodor Vogel, em Maio de 1841, referiu as potencialidades da Madeira como ideal para a instalação de um Jardim Botânico; o grande botânico austríaco Frederico Welwitsch, em Novembro de 1852, reforça entusiasticamente a criação de um jardim de aclimatação na Madeira dadas as peculiares condições climatéricas da Ilha; o naturalista Barão de Castello de Paiva, em Julho de 1855, num relatório entregue ao Ministro Fontes Pereira de Mello, menciona a importância de se criar na Ilha um “horto de naturalização de plantas exóticas”.
No Século XX, muitos cientistas e técnicos ligados à botânica defenderam a organização de um Jardim Botânico na Madeira e foi manifestado o interesse em apoiar a concretização da criação desse espaço por pessoas como os Professores Rui Telles Palhinha, António Sousa da Câmara, J. Vieira Natividade e Américo Pires de Lima, o Padre Alphonse Luisier, o Dr. Carlos Romariz e o Eng.º Agrónomo A. R. Pinto da Silva.
Entre 1946 e 1959, foram elaborados vários documentos que reforçavam a necessidade de criar um Jardim Botânico na Madeira. Estes documentos, assim como uma das conclusões da I Conferência da Liga para a Proteção da Natureza, realizada no Funchal em 1950, constituíram as bases de justificação para a criação do Jardim Botânico da Madeira (JBM).
A concretização da criação do JBM teve lugar com a aquisição, pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, da Quinta do Bom Sucesso (Quinta da Paz ou Quinta Reid) em 1952, por dois mil contos. A Quinta foi adquirida, por escritura datada de 18 de Setembro de 1952, a Manuel Gomes da Silva situando-se entre a Levada do Bom Sucesso e o Caminho do Meio e das Voltas e entre os 200 e 350 metros de altitude, tendo na altura uma área de pouco mais de 10 hectares, com uma casa de residência que havia sido da família Reid, antes de 1936. A Quinta foi adquirida com o intuito de ser utilizada pelos Serviços da Estação Agrária e “com o objetivo de ali ser instalado a sede do Jardim Botânico”. Posteriormente, entre Dezembro de 1952 e Junho de 1953, foram adquiridos outros terrenos anexos, pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal e incorporados ao parque botânico.
Desde a sua criação até 1973, o JBM foi parte integrante da Estação Agrária com o seu suporte administrativo. Em Dezembro de 1973, foi aprovado um regulamento do Jardim Botânico, numa reunião da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, em que lhe foi concedido a categoria de Direção de serviços “independente” mas com a obrigação de “exercer a sua atividade em estreita colaboração com a Estação agrária sempre que, no desempenho das suas funções, tenham de ser considerados aspetos relacionados com a agricultura distrital”.
A alteração de funcionamento do Jardim Botânico ocorreu em 1979, com a publicação do Decreto Regulamentar Regional n. 8/79/M, de 29 de maio, que estabeleceu a orgânica da Secretaria Regional de Agricultura e Pescas (SRAP), uma vez que passou a ser um departamento da Direção de Serviços Agrícolas da mesma Secretaria.
Em 1984, com aprovação da alteração orgânica da SRAP, pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 7/84/M, de 19 de Abril, o JBM sucedeu a Divisão da Direção dos Serviços Agrícolas, da Direção Regional da Agricultura, mantendo as competências que presidiram à aprovação do seu regulamento em 1973, tendo em conta os relatórios do Eng.º Agrónomo A. R. Pinto da Silva, da Estação Agrónoma Nacional e do Dr. Pierre Dansereau, da Universidade de Montreal (Canadá).
De entre as competências então definidas, destacam-se: Introdução e aclimatação de plantas úteis, especialmente novas cultivares; Seleção, multiplicação e distribuição das espécies vegetais, variedades ou cultivares de interesse científico, ornamental ou económico; Permuta com outros Jardins e Institutos Botânicos, de sementes, plântulas e propágulos de espécies naturalizadas, cultivadas ou indígenas da Região e, ainda, de material herborizado; Investigação científica, principalmente nos domínios da Botânica e, sempre que possível, em colaboração com Institutos e outros Jardins portugueses e estrangeiros; Educar popular e turismo. Divulgação.
Com a regulamentação da orgânica daquela Secretaria Regional, efetuada através do Decreto Regulamentar Regional n.º 1/93/M, de 7 de Janeiro, é criada a Direção Regional de Florestas. Com aprovação da orgânica desta Direção Regional, pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 7/93/M, de 27 de Março, o Jardim Botânico integra como Divisão a Direção de Serviços de Florestação e Recursos Naturais, à qual competia promover e desenvolver a investigação científica nos domínios da Botânica, em colaboração com entidades, nacionais e internacionais, que desenvolvam atribuições semelhantes.
Com a publicação do Decreto Regulamentar Regional n.º 11/2002/M, de 24 de Julho, a Direção Regional de Florestas compreende entre os seus órgãos e serviços o Jardim Botânico, enquanto Direção de Serviços, com atribuições nos domínios da investigação, conservação dos recursos genéticos vegetais e de apoio à criação e gestão de espaços verdes.
As suas instalações foram enriquecidas com a montagem de um laboratório em 1999 que, posteriormente, foi sendo apetrechado e melhorado. Foi criado também, em 1994, o Banco de Sementes do Jardim Botânico da Madeira direcionado para coleções de plantas indígenas da Madeira (Madeira, Desertas, Selvagens, Porto Santo), com prioridade para os endemismos e para as plantas raras e ameaçadas de extinção na Natureza.
COLEÇÃO DE PLANTAS
ARBORETO
O arboreto encontra-se situado na parte norte do jardim botânico. É constituído por uma coleção de árvores e arbustos originários de várias partes do planeta.
Na zona junto à casa principal, o visitante encontrará um espaço com algumas espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas que compõem a flora da Madeira. Destacam-se as espécies arbóreas da Laurissilva da Madeira, tais como a Faia (Myrica faya), o Folhado (Clethra arborea), o Vinhático (Persea indica), o Til (Ocotea foetens) e o Loureiro (Laurus novocanariensis) e ainda outras espécies endémicas da Madeira e Macaronésia raras ou ameaçadas de extinção, nomeadamente o Mocano (Pittosporum coriaceum), o Dragoeiro (Dracena draco), o Jasmineiro Amarelo (Jasminum azoricum), o Gerânio da Madeira (Geranium maderense) e Cheirolophus massonianus entre várias outras.
Das espécies exóticas existentes no arboreto, refira-se no estrato arbóreo a presença das Dombeias (Dombeya nyasica e Dombeya wallichii), várias espécies de Magnólia, as Araucárias (Araucaria bidwilii e Araucaria heterophylla), Cedros (Cedrus macrocarpa), Sequoias (Sequoia semprevirens, Metasequoia sp.), Eucalyptus ficifolia, o Pinheiro de Dâmara (Agathis brownii) e ainda o Ginkgo (Ginko biloba).
No arboreto, sob um denso coberto de várias espécies arbóreas existem inúmeros trilhos que serpenteiam por entre áreas ajardinadas compostas por mosaicos de diversas espécies de plantas herbáceas, bem como uma pequena lagoa onde o visitante poderá relaxar ao som do canto de pequenos pássaros. Na zona superior-oeste do arboreto, área sobranceira à Ribeira de João Gomes, existe uma gruta denominada “gruta dos namorados”. Daqui o visitante poderá desfrutar de uma magnífica vista sobre a cidade do Funchal.
SUCULENTAS
A coleção de plantas suculentas fica localizada na zona centro-este do Jardim, próximo da casa principal. Esta coleção é constituída por plantas que apresentam adaptações morfológicas e fisiológicas que lhes permitem sobreviver em ambientes secos e/ou desérticos. Aqui o visitante poderá observar as mais diversas estratégias evolutivas e adaptações destas curiosas plantas.
A coleção reúne cerca de 200 espécies de várias famílias, com destaque para Cactaceae, Crassulaceae, Agavaceae, Euforbiaceae, Asclepidaceae, Aizoaceae entre outras.
JARDINS COREOGRAFADOS E TOPIÁRIA
A topiária, ou poda ornamental, consiste em dar formas artísticas às plantas mediante corte com tesouras de poda. Esta prática, assim como os jardins coreografados, onde plantas de diferentes cores são utilizadas para criar padrões e mosaicos, visam a criar ambientes agradáveis e harmoniosos. A sua realização exige grande cuidado na escolha das espécies e no processo de modelação.
No Jardim Botânico da Madeira, para além de uma exposição de topiária, onde podem ser observadas diversas formas de animais e objetos esculpidas em arbustos, o visitante pode ainda observar uma área com jardins coreografados, onde plantas de diversas cores são conjugadas e organizadas de modo a criar mosaicos coloridos.
Na zona onde se encontra a exposição de topiária, destaca-se também a existência de uma representação da pitoresca casa de Santana, construção típica do concelho de Santana na ilha da Madeira. Estas construções caracterizam-se por apresentar uma forma triangular, as paredes pintadas de branco, as portas de vermelho e as periferias das portas e janelas de azul e a cobertura constituída por colmo, os quais eram tradicionalmente substituídos de 5 em 5 anos.
PLANTAS AGROINDUSTRIAIS
A importância das plantas para o Homem é incontestável. Seja como fonte de alimento ou matéria-prima para os mais variados fins industriais, o ser humano aprendeu cedo a utilizar as plantas para o seu bem-estar.
A coleção das plantas agroindustriais, localizado na área central do jardim, reúne cerca de 150 espécies e variedades de plantas utilizadas na alimentação e na indústria. Destaca-se as árvores de fruto tropicais e subtropicais.
PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS
Esta coleção, com localização contígua à coleção de plantas agroindustriais reúne cerca de 80 espécies de plantas tradicionalmente utilizadas na culinária e medicina popular.
PALMEIRAS E CICAS
As palmeiras, apesar de encontrarem-se distribuídas por todo o mundo, têm a sua origem e distribuição preferencial nas regiões tropicais e subtropicais.
As cicas são plantas com aspeto semelhantes às palmeiras. Apesar de terem sido especialmente abundantes no período Jurássico da era Mesozoica, existem atualmente poucas espécies, algumas das quais ameaçadas de extinção. Presentemente, a sua distribuição natural encontra-se restrita a um número muito limitado de regiões tropicais e subtropicais. Estas plantas, devido às suas folhas grandes e lustrosas e as inflorescências em grandes cones, semelhantes a pinhas e muitas vezes com cores vivas, entre o amarelo e o cor-de-laranja, têm sido muito apreciadas na decoração de jardins.
Em 1997, na secção sul do Jardim, junto ao anfiteatro, foi criada uma coleção com cerca de 44 espécies de palmeiras e de cicas. Nas palmeiras, destaca-se os exemplares de Bismackia nobilis (palmeira de prata), Lateria felti, Chambeyronia macrocarpa (palmeira do governador) e várias espécies do género Washingtonia. Nas cicas, destaca-se os exemplares dos géneros Dioon, Encephalartos, Zamia e Macrozamia.
A coleção de espécies endémicas da Madeira visa dar a conhecer a flora do Arquipélago da Madeira. A coleção inclui exemplares de vários taxa endémicos, alguns dos quais raros e ameaçados de extinção. Destaca-se por exemplo Jasminum azoricum, Cheirolophus massonianus, Chamaemeles coriacea, Pittosporum coriaceum e Prunus lusitanica subsp. hixa).
Existem no Jardim duas áreas dedicadas à flora da Madeira; uma localizada na zona do arboreto, e outra, na secção sul do jardim, junto ao anfiteatro e à coleção de palmeiras e cicas.
Na coleção localizada no arboreto destacam-se as espécies arbóreas da Laurissilva da Madeira, tais como a Faia (Myrica faya), o Folhado (Clethra arborea), o Vinhático (Persea indica), o Til (Ocotea foetens) e o Loureiro (Laurus novocanariensis) e ainda outras espécies endémicas da Madeira e Macaronésia raras ou ameaçadas de extinção, nomeadamente o Mocano (Pittosporum coriaceum), o Dragoeiro (Dracena draco), o Jasmineiro (Jasminum azoricum), o Gerânio da Madeira (Geranium maderense) e Cheirolophus massonianus entre várias outras.
A coleção localizada na zona sul do Jardim tem as espécies organizadas de forma a representar os vários níveis de vegetação da Madeira, desde a zona litoral até às altas montanhas da ilha. Nesta zona salienta-se as espécies raras Berberis maderensis e Pittosporum coriaceum.
Destaca-se ainda nesta coleção uma área de conservação ex situ de Aichryson dumosum, espécie endémica da Madeira e extremamente rara na Natureza. Neste espaço foi recriado o peculiar habitat desta espécie, que vive por entre amontoados de rochas basálticas em apenas uma localidade da ilha da Madeira.
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL
Em 1874, o Padre católico e naturalista Ernest Schmitz, por força do aumento de tensão dos movimentos anti-cléricos do Kulturkampf na Alemanha foi obrigado a sair do seu país, tendo-se estabelecido na Ilha da Madeira.
Na Madeira, entre 1881 e 1898 exerceu funções de capelão do Hospício da Princesa Dona Maria Amelia e professor de ciências naturais do Seminário Diocesano do Funchal.
Em Setembro de 1881 foi nomeado vice-reitor do Seminário Diocesano do Funchal, cargo que manteve até 1898, ano em que partiu para o Collegium Marianum de Theux, na Bélgica, onde trabalhou até 1902.
Em 1902 regressou ao Funchal, retomando as suas funções de vice-reitor do Seminário, cargo que exerceu até 1908.
Interessado na fauna e flora da ilha, nesse período fundou no Seminário do Funchal um gabinete de História Natural no Seminário do Funchal, que mais tarde viria a se transformar em Museu, presentemente o Museu de História Natural no Seminário do Funchal. O Museu, vocacionado para os recursos naturais dos arquipélagos da Madeira e Selvagens, guardava e tinha em exposição coleções de rochas, corais, fósseis, plantas (vasculares e avasculares), líquenes, animais taxidermizados (aves residentes, migratórias, mamíferos, peixes e répteis) e ainda outros conservados em formol.
Nos anos decorrentes foram adicionados ao Museu de História Natural do Seminário coleções de Briófitos e Fanerogâmicas, organizadas pelo naturalista inglês James Yate Johnson, bem como coleções de líquenes e fungos, organizadas pelo Padre Jaime de Gouveia Barreto, que entretanto substituiu o Padre Ernesto Schmitz nas funções de conservador do Museu do Seminário.
Em 1981, o Padre Manuel de Nóbrega, iniciou a instalação do espólio do antigo Museu Diocesano do Funchal em 3 salas do edifício principal do Jardim Botânico da Madeira – Eng.º Rui Vieira. Este espólio, propriedade da Diocese do Funchal, foi entregue à guarda do Jardim Botânico da Madeira em 1982, encontrando-se em exposição ao público.
Desta coleção destaca-se:
- Minerais e rochas encontradas no Arquipélago da Madeira;
- Fósseis encontrados em rochas sedimentares de São Vicente, Porto Santo, Porto da Cruz e Caniçal;
- Corais colhidos nos arquipélagos da Madeira e Selvagens;
- Exemplares de animais taxidermizados, que foram recolhidos em várias zonas dos arquipélagos da Madeira e Selvagens. Destaca-se a foca monge (Monachus monachus), popularmente conhecido por lobo-marinho, peixes e diversas aves indígenas.
Os exemplares estão na sua maioria identificados com o nome comum, nome científico, família e local onde foram recolhidos.