Espécies terrestres:

Borges et al. (2008)*, elenca 7543 táxones terrestres (espécies e subespécies) para os arquipélagos da Madeira e Selvagens.
No que concerne aos vertebrados (Chordata) e falando em ecossistemas insulares, o número de taxa representativo é relativamente pequeno em relação à proporção de endemismos. Assim, ocorrem apenas quatro classes de vertebrados terrestres nativos: peixes de água-doce (Actinopterygii); répteis (Reptilia); aves e mamíferos (Mammalia).

Com base nas publicações e estudos recentes, são cerca de 61 espécies e subespécies de vertebrados presentes nos arquipélagos da Madeira e Selvagens. Destes, o grupo maior pertence às aves.
Nas aves destacamos espécies endémicas do arquipélago, como o pombo-trocaz (Columba trocaz), ave exclusiva da floresta Laurissilva e o bis-bis (Regulus madeirensis), e as subespécies o corre-caminhos (Anthus berthelotii berthelotii), a coruja  (Tyto alba schmit), a lavandeira (Motacilla cinerea schmitzi), a manta (Buteo buteo harterti), o pintarroxo (Carduelis cannabina guentheri) e o tentilhão (Fringilla coelebs maderensis).

Ao nível dos répteis no arquipélago da Madeira, a lagartixa (Teira dugesii) é uma espécie conhecida da população em geral e é considerada emblemática. Já está diferenciada ao nível de subespécie endémica para a Madeira, o Porto Santo, as Desertas e as Selvagens. Para além da lagartixa existe a osga-das-selvagens (Tarentola boettgeri bischoffi) que tal como o nome comum indica, a subespécie ocorre exclusivamente no arquipélago das Selvagens. Duas espécies de osgas foram introduzidas na ilha da Madeira (Tarentola mauritanica)*** e Hemidactylus maboui***, com origem provável da península ibérica.

Os morcegos são animais mamíferos que pertencem à ordem Chiroptera e que têm as estruturas superiores em forma de membrana o que lhes permite voar! Baseado em referências de espécimes capturados nos séculos XIX e XX e revisões bibliográficas estavam referenciados para a quiropterofauna do arquipélago da Madeira, 5 espécies de morcegos, contudo no momento os dados diferem tanto no número como em relação às espécies***. Assim, as referências atuais descrevem estas espécies: Pipistrellus maderensis endémico da Macaronésia MAC***; Nyctalus leisleri  verrucosus endémico da Madeira ***; Plecotus austriacus e Hypsugo savii! As três primeiras espécies já foram capturadas na Madeira ao invés do morcego (H. savii) que apesar de pertencer à lista de quiropteros, a sua presença não foi registada podendo mesmo ser duvidosa. O morcego-rabudo europeu (Tadarida teniotis) está referenciado para a Madeira, no entanto o único exemplar colhido encontra-se no British Museum.

A maioria das espécies animais da região é representada por organismos invertebrados, particularmente as aranhas, os insetos, os crustáceos, os ácaros, os miriápodes, todos eles artrópodes e que em termos de biodiversidade são o grupo mais bem representado. Este grupo tem como características principais, a presença de um exosqueleto rígido e muitos apêndices articulados.
No arquipélago da Madeira e das Selvagens são aproximadamente 4000** espécies e subespécies de artrópodes presentes, sendo a maioria, exclusivas do arquipélago! Estas ilhas são verdadeiros hotspots de espécies endémicas.

Os aracnídeos, como as aranhas e os ácaros, contam cerca de 300 espécies, enquanto os miriápodes (centopeias) e os crustáceos terrestres (bichos-de-conta) andam à volta de 150 espécies.
Dentro das aranhas e porque para muitas pessoas há sempre muita curiosidade e por vezes fobia, há que destacar a famosa tarântula-das-desertas (Hogna ingens), emblemática pela dimensão do seu corpo que habita o Vale da Castanheira, mas também a tarântula do Porto Santo (Hogna schmitzi) que ocorre na ilha e nos seus ilhéus circundantes. Existem no entanto mais 5 espécies de tarântulas endémicas no arquipélago.

Os insetos são o grupo animal com maior representatividade no arquipélago da Madeira, ultrapassando o número de 3000 espécies. Vários grupos de insetos como as libélulas e libelinhas (Odonata), as baratas e térmitas (Dictyoptera), os grilhos e gafanhotos (Orthoptera) e as pulgas (Siphonaptera) estão representados por um reduzido número de espécies. Por outro lado, há alguns grupos de insetos que contam várias centenas de espécies, destacando-se entre eles os escaravelhos (Coleoptera), as moscas e mosquitos (Diptera) e as formigas, abelhas e vespas (Hymenoptera)**.

Todos os gorgulhos do género Laparocerus são endémicos do arquipélago! São no total 32 espécies! De facto muitos dados há a ressalvar em relação a este grupo tão vasto como os artrópodes. Facto curioso também é que em toda a Península Ibérica existem apenas 2 espécies do género Tarphius e na Madeira existem 22 espécies!

Os ecossistemas terrestres suportam um grande número de espécies e uma enorme biomassa de artrópodes. Muitos dos papéis ecológicos que desempenham são únicos e insubstituíveis.
Os moluscos, onde se incluem os caracóis e as lesmas são também outro grupo de invertebrados com uma grande representatividade nas diferentes ilhas do arquipélago. As características deste grupo de animais e que são por todos nós conhecidas, prende-se no facto de terem o corpo mole e muitas vezes possuírem uma concha.

A malacofauna dos arquipélagos da Madeira e Selvagens, que se encontra catalogada como vulnerável, contribui com 56 taxa para o livro vermelho de espécies ameaçadas (Teixeira, S. et al. 2008***). A ação antropogénica direta ou indireta teve consequências catastróficas, uma vez que das 14 espécies de moluscos terrestres extintas nos últimos 300.000 anos, 9 desapareceram após a colonização humana da ilha da Madeira (Cook et al. 1993****).

No caso concreto dos gastrópodes, apresentam uma biodiversidade notável, onde é conhecida a ocorrência de 254 espécies e subespécies, sendo a maioria delas (cerca de 67%), exclusiva do arquipélago da Madeira**. Estes valores são dos mais elevados entre os arquipélagos oceânicos a nível mundial e de facto apenas as ilhas do Havai superam este número de endemismos.

Citações:
*Borges PAV, Abreu C, Aguiar AMF, Carvalho P, Jardim R, Melo I, Oliveira P, Sérgio C, Serrano ARM and Vieira P (Eds.) 2008. A list of the terrestrial fungi, flora and fauna of Madeira and Selvagens archipelagos. Direcção Regional do Ambiente da Madeira and Universidade dos Açores, Funchal and Angra do Heroísmo. 438 pp.
**Boeiro et al (2013) Madeira, a pérola da Biodiversidade: valorização dos habitats naturais e dos endemismos do arquipélago
***Teixeira, S. (2008). Chordata – Chiroptera (Vespertilionidae, Molossidae). In: Borges, P.A.V., Abreu, C., Aguiar, A.M.F., Carvalho, P., Jardim, R., Melo, I., Oliveira, P., Sérgio, C., Serrano, A.R.M. & Vieira, P. (eds.). A list of the terrestrial fungi, flora and fauna of Madeira and selvagens archipelagos. pp. 366 – 368, Direcção Regional do Ambiente da Madeira and Universidade dos Açores, Funchal and Angra do Heroísmo.
**** Cook LM, Goodfriend GA and Cameron RAD 1993. Changes in the land snail fauna of eastern Madeira during the Quaternary. Philosophical Transactions of the Royal Society of London, B. 339, 83 -103.

 

Espécies marinhas:

O sistema litoral da Região Autónoma da Madeira é constituído por uma costa rochosa bastante exposta ao hidrodinamismo marinho. Ao longo da costa existem inúmeras grutas, algumas das quais com entrada submersa, e pequenas praias de calhau rolado.

A fauna marinha é semelhante em todo o arquipélago, possui afinidades marcadamente europeias e mediterrânicas, sobretudo ao nível de grupos como os peixes e os crustáceos do litoral.
Nas zonas rochosas a seguir ao domínio terrestre, no nível supra litoral encontram-se povoamentos de litorinas (Littorina striata), povoamentos de lapas (Patella pipperata), (Patella áspera) e (Patella candei) e caramujos, sendo o caranguejo-vermelho (Grapsus grapsos), também uma presença habitual bem como o caranguejo-cabra (Grapsus adscensionis).

No médio litoral existe uma diversidade mais elevada de espécies de fauna. Neste nível, encontram-se vários enclaves onde se encontram algumas espécies típicas do andar infralitoral como é o caso das anémonas, das esponjas, dos equinodermes (Paracentrotus lividus) e (Arbacia lixula), e do camarão-das-poças (Palaemon elegans). As reentrâncias rochosas, que se mantêm mais húmidas e escuras, são o habitat preferencial de algumas espécies de crustáceos (Pachygrapsus spp.) e (Eriphia verrucosa), gastrópodes (Monodonta spp.) e (Gibbula spp.).

No infralitoral o número de organismos aumenta, passando a existir uma fauna mais diversificada que inclui crustáceos anfípodes, isópodes e decápodes, sipunculídeos, anelídeos poliquetas e moluscos gastrópodes que vivem entre as algas e na massa sedimentar retida por estas.

Em relação aos peixes, destacamos o sargo (Diplodus sargus), as castanhetas (Chromis limbata) e  (Abudefduf luridus) e o bodião (Sparisoma cretense). Outros peixes de dimensões maiores marcam também a sua presença: o mero (Epinephelus marginatus) é muito conhecido por ser amistoso despertando a curiosidade dos mergulhadores e o badejo (Mycteroperca fusca).

Nas águas do Arquipélago é possível observar também as tartarugas. A nível mundial existem 7 espécies de tartarugas marinhas. Destas, cinco espécies ocorrem na Madeira: uma na família Dermochelydae Dermochelys coriacea e quatro na família Cheloniidae Caretta caretta, Lepidochelys kempii, Eretmochelys imbricata, Chelonia mydas. Nenhuma destas espécies reproduz-se em território nacional. Assim, somente a tartaruga-comum (Caretta caretta) é considerada uma espécie visitante na Madeira segundo os critérios da UICN, as demais sendo ocasionais, ou seja pouco ou muito pouco frequentes. As praias de nidificação que contribuem para as tartarugas encontradas ao largo da Madeira situam-se nos EUA (Flórida e Carolinas), muito provavelmente em Cabo Verde e possivelmente um pequeno contributo do Mar Mediterrâneo. Após a eclosão dos ovos, os juvenis dirigem-se para o alto mar, permanecendo longe das costas os primeiros 6 a 9 anos da sua vida.

Outras espécies emblemáticas que podemos observar nas águas da Madeira são os Cetáceos, o golfinho-roaz (Tursiops truncatus), a baleia-piloto-tropical (Globicephala macrorhynchus) o golfinho-comum  (Delphinus delphis) e o golfinho-malhado-do-atlântico (Stenella frontalis) fazem parte de populações pelágicas que têm grandes áreas de distribuição no oceano Atlântico. Nestes grupos associados às ilhas que utilizam as águas do arquipélago incluem-se outras espécies como a baleia-de-bico-de-blainville, Mesoplodon densirostris, o Zífio Ziphius cavirostris  e o cachalote pigmeu (Kogia breviceps).

A foca-monge do Mediterrâneo ou lobo-marinho, Monachus monachus, como é conhecida no arquipélago da Madeira, é a foca mais rara do mundo e uma espécie considerada em perigo crítico pela União Internacional para a Conservação da natureza (IUCN). Em Portugal, ocorre unicamente no arquipélago da Madeira, mais especificamente nas Ilhas Desertas e ilha da Madeira. Esta espécie conta atualmente com uma população estimada em 25 a 35 indivíduos que continua uma tendência positiva e a alargar a sua área de distribuição.

Em relação às aves marinhas, a Região Autónoma da Madeira reveste-se de particular importância: espécies como o garajau-comum (Sterna hirundo) ou a gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis atlantis) distribuem-se por todas as ilhas da Região em colónias de pequena dimensão. Na ilha da Madeira nidifica a única colónia mundial de freira-da-madeira Pterodroma madeira, espécie classificada como “Em Perigo” e já considerada extinta no passado, até ser redescoberta em finais da década de 1960. A maior colónia de patagarro (Puffinus puffinus) de Portugal e da Macaronésia localiza-se também nesta ilha, estando estimada em algumas centenas de casais (Ramírez et al., 2008). Na ilha do Porto Santo e ilhéus adjacentes existem pequenas populações de cagarra (Calonectris diomedea borealis), roque-de-castro (Oceanodroma castro), alma-negra (Bulweria bulwerii) e pintainho (Puffinus assimilis) (Ramírez et al., 2008). As Ilhas Desertas e as Ilhas Selvagens reúnem as maiores colónias de aves marinhas. Nas Ilhas Desertas nidifica a ave endémica freira-do-bugio Pterodroma deserta e a maior população de alma-negra (Bulweria bulwerii) de todo o Atlântico, bem como importantes populações europeias e atlânticas de cagarra (Calonectris diomedea borealis), pintainho (Puffinus assimilis) e roque-de-castro (Oceanodroma castro).

Nas Ilhas Selvagens, no extremo Sul da Região, nidifica a maior colónia de cagarra (Calonectris diomedea borealis) a nível mundial, bem como as maiores colónias de calcamar (Pelagodroma marina) e de pintainho (Puffinus assimilis) de todo o Atlântico Norte, e ainda um número muito significativo a nível europeu de roque-de-castro (Oceanodroma castro) e alma-negra (Bulweria bulwerii). Para além da nidificação esporádica de garajau-rosado (Sterna dougalli) e de garajau-preto (Sterna fuscata) na Selvagem Pequena, foram recentemente detetadas evidências de nidificação de painho-de-swinhoe (Oceanodroma monorhis) na Selvagem Grande.*****

Citações:
***** SRA (2014). Estratégia Marinha para a subdivisão da Madeira. Diretiva Quadro Estratégia Marinha. Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais. Junho de 2014.


http://www.museudabaleia.org/images/mardamadeiraumoasisaconservarpt.pdf

 

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