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Cagarra Osga Manta

Espécies Terrestres

O número total estimado de espécies e subespécies de invertebrados terrestres nas Ilhas Selvagens é de cerca de 219, sendo os artrópodes os maiores representantes destes registos (92%). O arquipélago das Ilhas Selvagens é claramente um hotspot de diversidade em número de espécies de artrópodes terrestres endémicos, com cerca de 44 taxa individuais (espécies=39; subespécies=7). Um recente catálogo sobre os coleópteros das Ilhas Selvagens foi publicado, com 5 novos registos de espécies para esta área (incluindo uma nova espécie). Contudo, com base no declive acentuado da curva de descoberta cumulativa de novos taxa, o número atual de espécies e subespécies endémicas conhecidas é certamente uma pobre estimativa do seu número real. Relativamente aos moluscos terrestres, pelo menos 8 taxa (espécies e subespécies) estão presentes nas Ilhas Selvagens, entre os quais uma espécie endémica Theba macandrewiana.

A fauna de vertebrados em ecossistemas insulares é normalmente composta por um pequeno número de taxa, com uma proporção considerável de endemismos. Este padrão geral também se observa no arquipélago das Ilhas Selvagens. Nestas ilhas, ocorrem 10 vertebrados terrestres, cujos 2 únicos répteis terrestres Tarentola bischoffi e Teira dugesii selvagensis presentes são exclusivos das Ilhas Selvagens. A fauna de vertebrados terrestres é caracterizada pela ausência de mamíferos nativos.

Um passariforme terrestre nidifica nas Ilhas Selvagens, o corre-caminhos Anthus bertheloti bertheloti, endémico da Macaronésia. Muitas outras aves visitam as Ilhas Selvagens ocasionalmente ou acidentalmente, principalmente no outono e na primavera.

Após a bem sucedida erradicação de coelhos e murganhos na Selvagem Grande, as Ilhas Selvagens tornaram-se o único arquipélago livre de mamíferos da Macaronésia (e do Atlântico Norte). A restrição da fauna de vertebrados terrestres à sua composição original de aves e répteis tem permitido o estudo científico de um tipo de ecossistema insular que era o mais comum ao nível mundial antes da invenção da navegação marítima por seres humanos. À medida que a sucessão ecológica continua e a ilha retorna à sua condição pristina, estes estudos (em curso) serão muito úteis para a descrição da linha de base das comunidades insulares, em comparação com as ilhas cujos ecossistemas são muito prejudicados devido à invasão de mamíferos.

Espécies Marinhas

O sistema litoral das Ilhas Selvagens é constituído por uma costa rochosa bastante exposta ao hidrodinamismo marinho. Na Selvagem Grande, predomina a costa rochosa com declive bastante acentuado enquanto na Selvagem Pequena e Ilhéu de Fora, prevalecem as plataformas rochosas existindo pequenas praias de areia branca. No mar adjacente destas ilhas, encontram-se alguns prolongamentos rochosos, pequenos ilhéus e uma grande quantidade de baixios.

Estudos recentes foram realizados no âmbito do M@rBis (Sistema de Informação para a Biodiversidade Marinha) (2010) e da National Geographic Society (2015). O principal objetivo deste esforço é a catalogação da biodiversidade marinha. A base de dados M@rbis inclui cerca de 15.000 registos de biodiversidade, dos quais pelo menos 100 são novos registos para a área. Eventualmente cerca de 20 espécies são novas espécies para a ciência, ainda não descritas. Os resultados preliminares destes estudos confirmam a presença de comunidades pristinas muito diversas, representativas dos habitats marinhos da Macaronésia.

Vários trabalhos têm sido publicados sobre a fauna marinha malacológica das Ilhas Selvagens, demonstrando que esta é uma zona bastante rica, preservada e com grande potencial nesta área de estudo, destacando-se a Expedição Selvagens 94. Durante esta expedição, foram recolhidas 115 espécies de moluscos marinhos, 32 das quais são espécies referenciadas pela primeira vez para as Ilhas Selvagens. Destas espécies, existem 32 em que as Ilhas Selvagens representam o limite de distribuição norte e 13 que representam o limite de distribuição sul. Em 2006, o número de registos de moluscos com presença confirmada nas Ilhas Selvagens é de 216 espécies. A campanha EMEPC/M@rBis/Selvagens 2010 descobriu outra série de novas espécies, que estão sendo estudadas atualmente. Como primeiro resultado, está a ser descrito o gastrópode Adeuomphalus marbisensis que, em conjunto com Sticteulima lata, Alvania dijkstrai, Alvania freitasi, Alvania harrietae, Manzonia boucheti e Osilinus atratus selvagensis, são taxa endémicos de moluscos marinhos das Ilhas Selvagens.

Em 2000, foi apresentado o primeiro catálogo de peixes litorais costeiros das Ilhas Selvagens, com um total de 60 espécies. Em consequência da missão científica EMEPC/M@rBis/Selvagens 2010, a informação disponível sobre a ictiofauna das Ilhas Selvagens foi atualizada, tendo acrescentado 29 novas espécies para as ilhas. Das 88 espécies assinaladas para as Ilhas Selvagens, 27% são características do oceano Atlântico oriental tropical, 10% das águas temperadas e 7% das águas subtropicais. 19% são espécies cosmopolitas e 14% anfiatlânticas. As Ilhas Selvagens são um exemplo de uma grande diversidade de espécies costeiras que ocorrem mesmo em áreas muito pequenas do Atlântico Nordeste. Comparadas com outros arquipélagos, a riqueza de espécies de peixes relatada para as Ilhas Selvagens é notável quando se considera que a área submersa com profundidades inferiores a 60 m é muito menor do que a disponível em arquipélagos de maior dimensão da Macaronésia.

A nível mundial existem 7 espécies de tartarugas marinhas. Destas, cinco espécies ocorrem na Madeira: uma na família Dermochelydae (Dermochelys coriacea) e quatro na família Cheloniidae (Caretta caretta, Lepidochelys kempii, Eretmochelys imbricata, Chelonia mydas). Nenhuma destas espécies reproduz-se em território nacional. Assim, somente a tartaruga-comum, Caretta caretta é considerada uma espécie visitante na Madeira segundo os critérios da UICN, as demais sendo ocasionais, ou seja pouco ou muito pouco frequentes. As praias de nidificação que contribuem para as tartarugas encontradas ao largo da Madeira situam-se nos EUA (Flórida e Carolinas), muito provavelmente em Cabo Verde e possívelmente um pequeno contributo do Mar Mediterrâneo. Após a eclosão dos ovos, os juvenis dirigem-se para o alto mar, permanecendo longe das costas os primeiros 6 a 9 anos da sua vida. Dada a importância da Madeira nesta fase vital, chamada fase juvenil pelágica ou oceânica, as Ilhas Selvagens também contribuem para a preservação da espécie.

As Ilhas Selvagens são uma das áreas de reprodução mais importantes para as aves marinhas da Macaronésia e do Atlântico Norte e estão classificadas como Área Importante para as Aves e Biodiversidade (IBA) no âmbito da BirdLife Internacional. A avifauna marinha nidificante destas ilhas é composta por 8 espécies. A colónia de cagarras Calonectris borealis constitui a colónia desta espécie com maior densidade em todo o mundo. Contudo é a colónia de calcamar Pelagodroma marina, aquela que atinge o número mais elevado nas Ilhas Selvagens, com um total superior a 80.000 casais reprodutores. A alma-negra Bulweria bulwerii, roque-de-castro Hydrobates castro e pintainho Puffinus lherminieri baroli, constituem as restantes aves marinhas que nidificam em números bastante significativos, todas elas de interesse comunitário.

Relativamente às aves marinhas costeiras, nas Ilhas Selvagens nidificam o garajau-comum Sterna hirundo e a gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis atlantis. O garajau-rosado, Sterna dougallii, espécie sob grande ameaça a nível mundial, para qual existem registos de nidificação em pequeno número no Ilhéu de Fora, não tem sido detetada a nidificar nos estudos mais recentes. O garajau-de-dorso-preto, Ornychoprion fuscatus, já foi detetado a nidificar na Selvagem Pequena. No entanto, esta nidificação tem tido caráter esporádico e não regular, pelo que a espécie continua a ser considerada apenas como ocasional nestas ilhas. As aves marinhas aqui referidas, com exceção da gaivota-de-patas-amarelas, são espécies migratórias, aparecendo nestas ilhas apenas durante o seu período reprodutivo. Tal como acontece com as aves terrestres, muitas outras espécies de aves marinhas visitam ocasionalmente as Ilhas Selvagens, sobretudo no Outono e no Inverno.

Um total de 9 espécies de cetáceos estão registadas nas águas das Ilhas Selvagens, algumas com estatuto de conservação ao nível mundial de "Vulnerável" ou "Ameaçada" de acordo com a lista de espécies ameaçadas da UICN. Estudos realizados em 1993, foram registadas a baleia-comum Balaenoptera physalus, cachalote Physeter macrocephalus, golfinho-roaz Tursiops truncatus e golfinho-comum Delphinus delphis nestas águas. A equipa científica do Museu da Baleia da Madeira observou, durante uma campanha de mar sistemática realizada nestas ilhas em agosto de 2002, golfinho-roaz Tursiops truncatus, baleia-piloto-tropical Globicephala macrorhynchus, golfinho-malhado-do-atlântico Stenella frontalis, cachalote-pigmeu Kogia breviceps e uma espécie de baleia de bico não confirmada. Ao longo dos anos, têm sido registados avistamentos e arrojamentos de vários cetáceos, confirmando a presença de algumas das espécies acima mencionadas e acrescentando mais duas: uma baleia-sardinheira Balaenoptera borealis foi reportada arrojada em 2005 pelos colaboradores da entidade gestora em exercício de funções nesta área protegida e uma baleia-de-bryde Balaenoptera edeni foi filmada pela equipa da National Geographic em 2015, enquanto filmava o documentário "Pristine Seas" nas Ilhas Selvagens. Provavelmente, muitas outras espécies de cetáceos utilizem o mar das Ilhas Selvagens, considerando que, ao norte, as ilhas do arquipélago da Madeira (Madeira, Desertas e Porto Santo) apresentam registos de 29 espécies de cetáceos e, a sul, as ilhas Canárias apresentam registo de um número idêntico de espécies. Os poucos estudos realizados nas Ilhas Selvagens sobre cetáceos, com uma cobertura sazonal muito limitada, justificam este registo mais baixo do que o esperado de espécies de cetáceos. Da posição geográfica subtropical das Ilhas Selvagens resulta ser o limite da faixa de distribuição norte de muitas espécies de cetáceos oceânicos tropicais e o limite sul de espécies de latitudes mais temperadas.

O meio marinho destas ilhas fica caraterizado pelas suas águas límpidas, onde guarda uma fauna abundante e diversificada (Relatório científico da National Geographic).

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